Opinião do torcedor: Respeite as cores Jovair!
Respeite as cores Jovair
Por Paulo Winícius Maskote
Torcida do Atlético, mesmo castigada, é a mais fiel.
No último dia 31 de outubro, às vésperas do Dia de Finados, a torcida do Atlético Goianiense, do time mais tradicional desse Estado, é assombrada com mais uma infeliz declaração do presidente do Conselho Deliberativo do clube, Jovair Arantes. O dirigente e deputado federal solta pérolas como a de que a torcida do Atlético “…tem que tirar o pijama” e de que “… não gosta de futebol” e agora deprecia o torcedor dizendo que “ Se a torcida continuar assim, não vai dar pra tocar o clube” (http://portal730.com.br/atletico-goianiense/jovair-arantes-abre-o-jogo-e-cutuca-a-torcida-se-continuar-assim-nao-vamos-dar-conta-de-tocar-o-clube).
O Dirigente afirma que a renovação do patrocínio com a Caixa Econômica Federal estaria mais difícil por culpa da ausência da torcida. Porém o torcedor se pergunta “Se o Atlético não renovar o contrato com a Caixa não seria muito mais porque o deputado da “bancada da bola” bateu de frente com o Governo Federal, questionando as contrapartidas e responsabilizações aos times e dirigentes que aderissem ao Profut ?”
Como culpar a torcida do Atlético por não ir ao estádio para ver esse time limitadíssimo que temos em 2015? Comparecer ao estádio para ver o que? O segundo pior ataque do campeonato? Ver um time que ficou em 6º lugar na fraquíssima edição do campeonato goiano de 2015? Torcedor não sai de casa pra ver mais um empate entre os tantos que já conquistamos, no máximo fica feliz de não sermos rebaixados e clama por um time competitivo para 2016. Ah, e não me venham falar de ausência da torcida em 2014, quando o time ate as dez ultimas rodadas da Série B ainda brigava para não ser rebaixado, só engrenou no final e ainda com ingressos caros. No futebol goiano, em geral, o torcedor não vai ao estádio se o time não inspira confiança, que o digam os públicos do Vila Nova de 126 pagantes contra o ABC e 139 pagantes contra o Paraná na série B de 2014 ou mesmo os públicos do Goiás contra Avaí e Chapecoense na série A desse ano, de 1.105 e 1.170 torcedores, respectivamente. Todos esses públicos menores do que os que o Atlético vem tendo.
Como se já não bastasse uma crônica verde e outra vermelha que não engolem o crescimento do Dragão, agora o torcedor tem que aguentar seu próprio dirigente lhe desprestigiando. O que se passa na cabeça de um dirigente para falar mal da própria torcida? Alguém já viu alguma torcida crescer ou frequentar mais o estádio graças a um dirigente que critica sistematicamente o torcedor? Eu nunca vi, acho que pelo contrário só desmotiva.
Seria então uma tentativa do dirigente de tirar o foco sobre a equipe limitada que foi montada sob sua anuência e concordância? Seria uma forma de não ter que falar e assumir suas responsabilidades sobre a dívida de cerca de 40 milhões de reais contraídas pelos dirigentes do clube nos últimos anos? Todas essas dívidas contraídas em gestões nas quais o senhor Jovair era dirigente. Inclusive a tão depreciada última gestão do ex-presidente Valdivino de Oliveira 2013-2014, na qual Jovair era o vice.
Que história é essa de “Se continuar assim, não vai dar pra tocar o clube ? O senhor acha que está fazendo um favor em ser dirigente do Atlético ? Lhe respondo : Não está !! Aliás não é a torcida que deu um voto de confiança para o senhor? Ou não foi o senhor que propôs a extinção do Atlético para formar um novo time em fusão com o Goiânia no final dos anos 90 e início dos 2000? Não era o senhor o presidente do Conselho Deliberativo do Atlético que assinou acordo ao lado de Alencar Junior pra acabar com o estádio Antônio Accioly e transformá-lo em Shopping em acordo com construtoras ? Torcedor bom para o senhor seria o da torcida organizada do Goiás ? Que apoiou sua campanha política para prefeito em 2012. Porque deles não me lembro do senhor criticar (http://cleubercarlos.blogspot.com.br/2012/08/torcida-forca-jovem-do-goias-declara.html) .
Quem assume a gestão do Atlético tem que ter consciência de que temos uma torcida que foi massacrada desde os anos 1970 com péssimas gestões e jejuns de títulos. Justamente no período de maior crescimento populacional do estado e da capital o Atlético vê seus rivais ganharem muito mais títulos e ocuparem espaço em meios de comunicação que se proliferavam entre os brasileiros, como a TV, o Rádio Esportivo e Jornais, fazendo Goiás e Vila Nova ganharem milhares de novos torcedores. É essa a situação que leva o Dragão, que teve a maior torcida do Estado, entre os anos 1940 e meados dos 70, a ter um decréscimo vertiginoso de torcedores. Só agora após 2006 é que a torcida atleticana está voltando a crescer, e segundo pesquisa da PluriConsultoria, de 2012, era a torcida que mais crescia em Goiás. Porém é preciso paciência e empenho em ajudar nesse crescimento.
É triste ver um dirigente atacar a torcida como se não tivesse responsabilidade nenhuma pelo afastamento dos torcedores do estádio. Qual a responsabilidade dos dirigentes pela situação de inatividade e abandono do Estádio Antônio Accioly desde 2011? O time ao se afastar de sua casa e de suas origens não perde o apoio uma grande maioria de torcedores?
Do tempo das “vacas gordas”, quando o time esteve 3 anos na série A, até hoje, não houve nenhum investimento em iniciativas para aproximar o time da torcida. Nada de programa sócio torcedor (que times muito menores que o Atlético já tem), de campanha para vender títulos para novos sócios proprietários ou de investimento no setor de Marketing para fortalecer a imagem do clube junto a possíveis novos torcedores. Hoje o Atlético sequer tem uma sala de troféus ou um memorial destacando suas inúmeras glórias e feitos.
O Atlético mantém cláusulas restritivas em seu estatuto ao só permitir que seja eleito presidente quem já ocupou cargo eletivo, o que quase inviabilizou as últimas eleições no clube. Ou seja, dessa forma só os mesmos dirigentes de sempre poderão ocupar a frente do Atlético. Depois ainda fazem o discurso covarde de que se os mesmos dirigentes de sempre estão assumindo é porque ninguém mais quer assumir, como se o nosso histórico Dragão estivesse “largado para as cobras”. Negativo senhores. Temos atleticanos capacitados em todos os campos da sociedade goiana, entre magistrados, intelectuais, desportistas, enfim, trabalhadores de todas as áreas. A torcida atleticana espera a tão falada reforma estatutária que foi prometida na posse da última gestão. Nós sócios também esperamos sermos chamados para ajudar o clube, e tomarmos pé da situação do nosso Dragão, e não só para votarmos de dois em dois anos.
Está passando da hora de abrir o time para que novos torcedores possam se tornar sócios, contribuindo e opinando, visando a formação de futuros dirigentes. É preciso seguir o caminho de times que tem um grande contingente de sócios, que possam influir e contribuir nas principais decisões do time.
O Atlético precisa voltar a ser o “Time do Povo”, e para que isso ocorra a abertura do time é indispensável. Torcedor não tem que só pagar ingresso e aguentar desmandos, endividamento do clube, destruição de patrimônio e ainda essa recente falta de ambição que chama o torcedor pra ver um time coadjuvante até no Campeonato Goiano. De 2006 a 2012 a torcida confiava no time e sempre apareceu em peso, sempre que o Accioly esteve funcionando o torcedor lá estava. A torcida atleticana, mesmo castigada por ver a equipe conquistar somente três títulos em um período de 34 anos, entre 1972 e 2006, foi a campeã de público do campeonato goiano de 2006, mostrando que existia e resistia. Depois tivemos média de público superior ao Vila Nova na serie B de 2009, média de publico igual a do Goias na serie A de 2010, e ate em situações como fuga de rebaixamento a torcida mostrou seu potencial quando compareceu em cerca de 20.000 torcedores no ano de 2013 no jogo contra o Guaratinguetá, pela série B.
O recado então é: Quer ser dirigente do Atlético? Entenda mais da torcida e do clube que dirige. Nossa torcida está em reconstrução e proporcionalmente é a que mais comparece no estádio. Como dizia nosso torcedor histórico, o Divino Donizete, em seu carrinho de catar papel e nas arquibancadas: “RESPEITE AS CORES”. Falar mal da nossa torcida não!!
Paulo Winícius Teixeira de Paula – Historiador, Professor e Mestre em História pela UFG e sócio proprietário do Atlético Clube Goianiense. paulowinicius@gmail.com